quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A "esponja" vermelha?

Ontem lia sobre uma manifestação de membros da CUT que participavam do Fórum Social Mundial, apoiando Dilma Rousseff, “candidata chaveirinho” do atual presidente. A principal justificativa do apoio era impedir o retorno ao ”neoliberalismo” tucano. Não pareciam se importar com o “neoliberalismo” petista. As aspas não existem por acaso, esse termo virou jargão imbecil e não conceito passível de debate.

Recentemente li um artigo de André Singer, publicado na revista Novos Estudos (n 85, 11/2009). Em seu estudo, o autor aponta para a incorporação de setores conservadores do proletariado na base eleitoral de Lula, que tem transcendido as velhas classificações ideológicas.

Concordo com Singer e reforço que há algo de absolutamente esquizofrênico na base de apoio petista. Ignorando o apoio financeiro significativo que os movimentos e sindicatos recebem do governo petista, é de saltar aos olhos essa heterogeneidade, na qual transforma Lula no que bem entendem. Esse caráter “camaleônico” tem conferido uma estabilidade impressionante, que absorve e agrega todos, como uma esponja.

Acho bem interessante caracterização de Singer de Lula como “bonapartista”, mas acho importante avançar um pouco na reflexão sobre. Há algo de sintomático na era Lula que desafia nossas instituições (incapazes de punir eventos assustadores de 2005 e talvez de cristalizar forças não personalistas – partidárias- consistentes). É importante se pensar sobre a agenda que Lula coloca. Lembremos que da estabilidade econômica (1994 e 1998), caminhamos para o desemprego e políticas sociais (2002 e 2006). “E agora, José?”.

A agenda de 2010 mostra traços de ser pautada no tal “lulismo”. O “getulismo” já foi uma clivagem durante a primeira metade da segunda república. É uma possibilidade ser a “esponja” que tudo agrega nossa próxima clivagem por durante, pelo menos, duas eleições. Pelo jeito, tempos paupérrimos virão.

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